Pesquisa sobre cultivo de camarão pode levar a produção para o interior do país

Reportagem por Valmor Neto, Luciane Toledo | Vídeo por Ricardo dos Passos | Arte por Priscila dos Anjos | Os habitantes do cerrado, sertão e de qualquer região do país poderão consumir, dentro de alguns meses, camarões marinhos frescos produzidos próximos de casa e por um preço muito mais acessível. Uma pesquisa desenvolvida por Marcos Santiago, doutorando de engenharia química da UFSC está provando que é possível levar a produção de camarões marinhos para os rincões do país. O camarão é uma das principais iguarias nos restaurantes brasileiros, tem uma excelente aceitação em todas as regiões e é quitute básico no cardápio dos coquetéis da alta sociedade.

Desenvolvida ao longo de cinco anos, a pesquisa, que contou com a orientação do professor Hugo Moreira Soares, referência em processos biológicos no tratamento da água, buscou encontrar métodos para aumentar a produtividade, reduzir custos, espaço e a emissão de desejos poluentes que são descartados no meio ambiente através do processo de cultivo. O sistema semi-intensivo, praticado atualmente, acontece em tanques escavados próximos do mar, sendo muitas vezes necessário devastar grandes áreas de mangue, importantes berços da vida marinha.

O chamado sistema superintensivo, desenvolvido pela pesquisa, sugere a utilização de micro-organismos para filtrar a água utilizada no cultivo dos camarões e desta forma tornar mais eficiente à produção. A pesquisa permitiu aumentar em até dez vezes a produtividade de camarões, saltando dos 30 crustáceos por m³, para cerca de 300 camarões por m³. Por ser totalmente independente do mar e não necessitar de renovação de água durante o cultivo, o sistema permite a produção de camarões em qualquer região do país, pois inclusive a água salgada pode ser produzida artesanalmente.

Outro importante avanço conquistado foi a redução do lodo, dejetos provenientes da excreção dos camarões, que através do novo processo pode ser facilmente retirado e destinado para aterros sanitários ou mesmo servir de adubo em manguezais. De acordo com o Marcos Santiago, no processo semi-intensivo, desenvolvido atualmente, os dejetos são liberados no meio ambiente em alta quantidade, o que pode provocar a mortandade de outras espécies. O cientista destaca que a aplicação deste novo processo permitirá a redução da devastação nos manguezais ao longo da costa brasileira, pois além do aumento na produtividade, o sistema desenvolvido não permite a proliferação de vírus como o da mancha branca, que inviabiliza o cultivo, além de reduz drasticamente a poluição.

O camarão é atualmente um dos produtos mais caros entre os derivados marinhos, e o valor elevado se dá principalmente por problemas de logística do país, pelo custo ambiental do cultivo e pela fragilidade das espécies frente aos vírus que atacam as fazendas produtoras, principalmente no Sul do Brasil. Atualmente o camarão é produzido em cidades litorâneas e depois de congelado segue em caminhões para as mais distantes cidades do país. A pesquisa pode enfim propiciar o início do cultivo nessas regiões, barateando os custos para o consumidor, reduzindo a proliferação de vírus, a degradação ambiental nas áreas litorâneas e oferecendo o produto fresco para os consumidores de todo o Brasil.

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